Gira Girê

Clarisse Siqueira, Geiza Carvalho, Flavia Moretz-Sohn

"Gira Girê" é uma exposição artística de animações abstratas digitais feitas pela artista Clarisse Siqueira com o tema Pombagiras. Muito comuns nas religiões afro-brasileiras, como a Umbanda e o Candomblé, as Pombagiras são entidades espirituais associadas ao arquétipo feminino, geralmente com forte personalidade, independência e conexão com questões ligadas ao amor, ao prazer, e à sedução. A expressão “Gira Girê”, no título da obra, é uma saudação utilizada para reverenciar as Pombagiras, aludindo à sua associação com movimentos e imagens giratórios de dança e incorporação.

Realizada com o apoio do edital Cultura Presente nas Redes 2, da Secretaria de Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro, a obra é um vídeo 360 graus imersivo, que pode ser visto através do celular, tablet, computador ou óculos de realidade virtual. No vídeo imersivo, o usuário pode controlar a mirada da câmera e visualizar animações digitais abstratas de Pombagiras, desenvolvidas em softwares de computação gráfica 2D e 3D. As formas curvas das representações abstratas das entidades conotam os movimentos giratórios das Pombagiras e as ventarolas comumente associadas à sua iconografia, em que também abundam as cores vermelho, preto e dourado. O ambiente imersivo da obra é inspirado na Diekenga do povo Bakongo, de acordo com a leitura de Bunseki Fu-kiau feita por Tiganá Santana.

A obra é organizada como uma exposição que se divide em duas salas: a sala Encruza e a sala Calunga. Nas religiões afrobrasileiras, uma “encruza” (ou “encruzilhada”) é um local simbólico de grande importância, promovendo a comunicação entre o mundo físico e o mundo espiritual. O substantivo “calunga” também se refere a fronteiras entre o mundo físico e o espiritual, como num cemitério (conhecido como “Calunga pequena”) ou no mar (conhecido como “Calunga grande”). A dualidade desses simbolismos se expressa na obra por meio dos paralelismos e binarismos visuais entre as duas salas, separadas por um espelho d’água. A imersão na obra se completa pela trilha sonora do vídeo, que congrega as risadas tipicamente associadas à incorporação de Pombagiras e uma música de percussão.


Clarisse Siqueira é uma artista que investiga o tempo, a consciência e a espiritualidade brasileira através de imagens digitais, animações, vídeos e realidade virtual. Nasceu em 1979, nos subúrbios do Rio de Janeiro, e trabalha com motion design e novos meios desde 1998. Tem investigado artisticamente temas da espiritualidade afro-brasileira, especialmente as Pombagiras. Em 2022, foi premiada em um concurso do Governo do Estado do Rio de Janeiro para produzir a exposição de animações abstratas em realidade virtual *Gira Girê*, que foi exibida no Brasil, no México e em Miami. Atualmente cursa o doutorado em Artes Visuais na UFRJ, onde aprofunda a questão do tempo em desdobramentos teóricos e artísticos. Também é professora nas áreas de artes e design.

Flavia Moretz desenvolveu o ambiente expositivo virtual da Gira Girê. É arquiteta com experiência em projetos de arquitetura, urbanismo, cenografia e apresentações 3D. Mestre em Engenharia Urbana e Ambiental pela PUC-Rio, com dupla diplomação na Alemanha, onde aprofundou estudos sobre sustentabilidade na mobilidade urbana. Desde 2017, desenvolve projetos visuais para teatro, intervenções urbanas, shows e eventos, além de cenografia para TV e publicidade. Em 2019, em parceria com Luiza Kemp, criou objetos multissensoriais para crianças com autismo. Em 2020, co-criou a Libélula, uma iniciativa que oferece brinquedos e materiais lúdicos para o público neurodivergente e PCD, incluidos nas visitas guiadas da exposição permanente no Museu do Amanhã e também em outros museus.

Geiza Carvalho é formada pela UFRJ em percussão sinfônica e licenciatura em música( UFRJ), estudou percussão performance na Hochschule Musik Für Karlsruhe, na Universidade da Alemanha. Atualmente é professora da graduação do curso de Percussão Sinfônica do Conservatório Brasileiro de Música, integrante e idealizadora do projeto Chora Mulheres na Roda, integrante da Orquestra Sinfônica de Mulheres do Brasil, gravou recentemente no álbum “Sete mulheres pela independência do Brasil” da Zélia Duncan e Ana Costa( maio 2023), tocou recentemente no trabalho “Pra nunca se Acabar” da cantora Roberta Sá( novembro 2020), atua como educadora Musical em escolas, projetos sociais e como professora de percussão infantil.Trabalha na área popular integrando vários grupos musicais, atua em espetáculos teatrais como musicista e arranjadora.